Table Of ContentUNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
ELTON ROGÉRIO CORBANEZI
Sobre a razão do Mesmo que enuncia a
não-razão do Outro:
Às voltas com a História da Loucura e O Alienista
CAMPINAS
2009
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA
BIBLIOTECA DO IFCH – UNICAMP
Por Sandra Ferreira Moreira CRB nº 08/5124
Corbanezi, Elton Ro gério
C81s Sobre a razão do Mesmo que enuncia a não-razão do Outro:
Às voltas com a História da Loucura e O Alienista / Elton Rogério
Corbanezi. - - Campinas, SP: [s. n.], 2009.
Orientador: Laymert Garcia dos Santos.
Dissertação (mestra do) – Universidade Estadual de Campinas,
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas.
1. Assis, Machado de, 1839-1908. 2. Foucault, Michel, 1926-
1984. 3. Loucura. 4. Crítica. 5. Modernidade. I. Santos,
Laymert G. dos (Laymert Garcia dos), 1948- II. Universidade
Estadual de Campinas. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas.
III.Título.
Título em inglês: About the reason of the Same that states the unreason of the
Other: to the turns with Histoire de la folie à l’âge classique and O Alienista.
Palavras chaves em inglês (keywords)
Assis, Machado de, 1839-1908
Foucault, Michel, 1926-1984
Madness
Critic
Modernity
Titulação: Mestre em Sociologia
Banca examinadora: Oswaldo Giacóia Jr
José Carlos Bruni
Data da defesa: 25/11/2009
Programa de Pós-Graduação: Sociologia
ii
Ao meu irmão Eder
iv
Agradecimentos
Durante os anos em que estive às voltas com a História da Loucura e O Alienista,
diversas pessoas, com as quais compartilhei as mais variadas experiências, fortaleceram o
caminho que certamente ecoa nesta dissertação.
Em relação ao período de desenvolvimento desta pesquisa, desejo manifestar o
contentamento e a gratidão pelo encontro com Laymert Garcia dos Santos, por confiar e me
encorajar na consumação deste projeto, por me orientar com sua energia intelectual e de
vida. Agradeço igualmente a José Carlos Bruni que, de forma paciente e companheira, por
meio de instigantes e elucidativos diálogos, sempre enriqueceu a pesquisa, desde as
primeiras idéias até o término da dissertação. Sou grato ainda a Oswaldo Giacóia Júnior,
por participar, juntamente com Bruni, do frutífero exame de qualificação, do qual esse texto
muito se favoreceu. Agradeço, do mesmo modo, a Luís Antônio Francisco de Souza pelo
estímulo aos primeiros passos de pesquisa durante a Iniciação Científica.
Como expressão de muito amor, agradeço o incentivo de minha família: aos meus
pais, Silvio e Regina, pela confiança e força que sempre depositaram nos filhos; ao meu
irmão Eder, inestimável companheiro, pelas leituras das quais esse trabalho muito se
beneficiou, pelo contágio da paciência e do estímulo cotidiano e por todas as nossas
experiências vivenciadas.
Agradeço igualmente a Bruna Epiphanio pelo afetuoso companheirismo e atenção
dedicados no momento decisivo desta dissertação. Sou muito grato também aos meus
amigos-irmãos, inseparáveis do meu cotidiano, Gustavo Favaron e Marcelo Campos.
Desejo ainda manifestar a minha gratidão para com todos aqueles que, em suas importantes
existências, de uma forma ou de outra, estiveram presentes nesta pesquisa ou, ainda,
compartilhando as (a)venturas e desventuras da minha vida: Tiago Bin, Adriano
Mergulhão, Fabio Crocco, Cleiton Paixão, Arakin Monteiro, Leonardo Cruz, Henrique
Abarca, Victor Coutrim, Ramon Capelle, Thien Ferraz, Brunei Máximo, Danilo Tebaldi,
Maíra Sant’Anna, Bruno Picarelli, Diogo Almeida, Eduardo Guilherme, Felipe Bedran,
Eduardo Perissinotto, Igor Eugenio, Thalita Bovo, Iris Vinha, Marcelo Rodini, Adriano
Candiotti, Gilberto Grego, Luíz Domingos, Julio Gouvêa, Giselle Vianna, Marina Rebeca,
João Bittencourt, Miqueli Michetti, Orson Camargo, Paola Gambarotto, José Szwako e
v
Juliano Bernardes. Sou grato também a Christina, da secretaria de Pós-Graduação, pela
paciência e ajuda, bem como aos bibliotecários do IFCH. Por fim, agradeço à FAPESP, que
financiou esta pesquisa.
vi
O problema não é inventar. É ser inventado hora
após hora e nunca ficar pronta nossa edição
convincente.
Carlos Drummond de Andrade, Corpo.
vii
Resumo
Diante da necessidade de se levar um escrito literário a sério, interpretamos o conto O
Alienista [1882], de Machado de Assis, como expressão cômica em relação à prática
psiquiátrica do século XIX, compreendida como um poder médico que domina a loucura,
mesmo que não a conheça. Para tanto, em um primeiro momento, trata-se de analisar a tese
História da Loucura [1961], de Michel Foucault, no concernente à subjetivação da loucura
por meio da sujeição e do silenciamento do louco. A partir de uma historicidade nada
convencional, ressaltada pela tese de Foucault, buscamos evidenciar o projeto moderno de
silenciamento da loucura, consolidado pela psiquiatria positivista, a qual é precedida por
uma experiência trágica da loucura no período renascentista e pela separação entre razão e
desrazão, que desencadeou na internação clássica. Em um segundo momento, relacionamos
essa leitura à economia interna do conto machadiano, destacando o projeto inverso,
ficcional e crítico de silenciamento da razão médico-psiquiátrica. Diante da constatação
ficcional de que o excesso de luz provoca a cegueira, ou seja, da patologia da razão médico-
psiquiátrica, mencionamos, em um terceiro momento, a maneira pela qual a psiquiatria se
constituiu como ciência médica no Brasil do século XIX. Dessa forma, ao perscrutar a
economia externa d’O Alienista, por considerá-lo também como um escrito que ocupa um
lugar em seu tempo e em sua cultura, buscamos compreender até que ponto o procedimento
irônico do narrador machadiano possibilita com que seu universo ficcional seja interpretado
como uma expressão crítica ante uma determinada realidade. Em outras palavras,
sugerimos uma possibilidade interpretativa d’O Alienista a partir da análise histórico-
filosófica de História da Loucura, uma vez que ambos os escritos apontam, às suas
distintas maneiras, a fragilidade epistemológica da psiquiatria, além da idéia de que a
racionalidade a todo o custo é uma potência que compromete a vida.
Palavras-chave: racionalidade psiquiátrica; loucura; silenciamento; crítica;
modernidade.
viii
Abstract
Given the need to take a literary writing seriously, we interpret the tale O Alienista
[1882], by Machado de Assis, as comical expression in relation to psychiatric practice in
the nineteenth century, understood as an medical power that dominates the madness, even if
does not know it. Therefore, in a first moment, the Histoire de la folie à l’âge classique
[1961] thesis by Michel Foucault is analysed concerning the subjectivation of the madness
through the subjection and silenciamento (to become speechless) of the madman. From an
unconventional historicity emphasized by the theory of Foucault, we highlight the modern
project of the silenciamento of the madness, consolidated by the positivist psychiatry,
which is preceded by a tragic experience of madness in the Renaissance period and by the
separation between reason and unreason, which triggered the classical confinement. In a
second moment, we relate this lecture to the internal economy of O Alienista, by Machado
de Assis, highlighting the reverse, fictional and critical project of the silenciamento of the
medical-psychiatric reason. In a third moment, given the fictional indication that the excess
of light leads to blindness, which means the fictional indication of the pathology of the
medical-psychiatric reason, we mention the way by which the psychiatry constitute itself as
medical science in the nineteenth century in Brazil. Therefore, researching the external
economy of O Alienista, considering it a writing that has a place in its time and in its
culture, we try to understand until where the ironic procedure of the machadiano narrator
allows that his fictional universe is interpreted as a critical expression in face of a
determinate reality. In other words, from the historical-philosophical analyze of the
Histoire de la folie à l’âge classique, we suggest one possible interpretation of O Alienista,
given that both writings show, in their different ways, the epistemological fragility of the
psychiatry and show that the rationality at all costs is a power that undermines the life.
Key-words: psychiatric racionality; madness; silenciamento (to become speechless);
critic; modernity.
ix
SUMÁRIO
Apresentação.........................................................................................................................11
1 - História da Loucura na Idade Clássica: o crescente silenciamento da loucura .........17
1.1 - O Renascimento e a possibilidade da loucura ...............................................................34
1.2 - O Classicismo e a incomunicabilidade entre os termos ...............................................44
1.3 - A Modernidade e a consolidação de um monólogo ......................................................58
2 - O Alienista: uma incursão no mundo ficcional da crítica ...........................................75
2.1 - O Alienista e a transposição do silenciamento .............................................................93
3 - A literatura como signo de realidade...........................................................................125
3.1 - Aos itaguaienses, a Casa Verde ...................................................................................136
3.2 - Positivamente o terror .................................................................................................155
3.3 - O procedimento Bacamarte .........................................................................................170
3.4 - Excurso: a ironia do narrador machadiano como procedimento crítico .....................185
Recomeço ............................................................................................................................217
Bibliografia .........................................................................................................................231
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Description:altissonante e numa louvação que suba aos céus, embora o irônico esteja consciente de que este KIERKEGAARD, Søren Aabye. O conceito de