Table Of ContentUNIVERSIDADE DE LISBOA
Faculdade de Letras
ESPAÇO, TEMPO E PODER
NOS MITOS DO ḪATTI, DE UGARIT E DE HESÍODO
Uma Morfologia Comparativa
João Paulo Teixeira da Silva Galhano
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM HISTÓRIA ANTIGA
Lisboa
2012
UNIVERSIDADE DE LISBOA
Faculdade de Letras
ESPAÇO, TEMPO E PODER
NOS MITOS DO ḪATTI, DE UGARIT E DE HESÍODO
Uma Morfologia Comparativa
João Paulo Teixeira da Silva Galhano
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM HISTÓRIA ANTIGA
ORIENTADA PELO PROFESSOR DOUTOR NUNO SIMÕES RODRIGUES
Lisboa
2012
Aos meus pais,
que, antecipando-se a Hesíodo,
me ensinaram os valores
do Trabalho e da Justiça.
Às minhas filhas,
a quem espero
ensinar o mesmo.
SUMÁRIO
RESUMO / ABSTRACT i
PALAVRAS-CHAVE / KEYWORDS iii
HONORIS GRATIA iv
ABREVIATURAS vi
I. INTRODUÇÃO 1
II. TEXTOS E CONTEXTOS 8
II.1. AS MATRIZES POLÍTICAS 8
II.1.1. OS DOMÍNIOS DO ḪATTI 8
II.1.2. O REINO DE UGARIT 15
II.1.3. A GRÉCIA, DA QUEDA DE MICENAS A HESÍODO 21
II.2. OS CORPORA MÍTICOS 27
II.2.1. EM TORNO DO CONCEITO DE MITO 27
II.2.2. OS MITOS DO ḪATTI 31
II.2.3. OS MITOS DE UGARIT 42
II.2.4. HESÍODO 54
III. MORFOLOGIA COMPARATIVA 64
III.1. O ESPAÇO MITOLÓGICO 64
III.1.1. A MONTANHA E O CÉU 64
III.1.2. O MUNDO INFERIOR 82
III.1.3. A ÁGUA, A TERRA E O TODO ESPACIAL 99
III.2. O TEMPO MITOLÓGICO 114
III.2.1. A ORIGEM 114
III.2.2. ESTRUTURAS DO PASSADO 126
III.2.3. DO PRESENTE ÀS VISÕES DO FUTURO 143
III.2.4. FINITO E INFINITO, LINEAR E CIRCULAR 150
III.3. A ORGANIZAÇÃO DOS PODERES DIVINOS 164
III.3.1. LUTA E SUCESSÃO 164
III.3.2. O REI DIVINO 191
III.3.3. OS GRUPOS DIVINOS 206
IV. A QUESTÃO DA INFLUÊNCIA 223
IV.1. PRESSUPOSTOS HISTÓRICO-GEOGRÁFICOS 223
IV.2. A SIMILITUDE EM SÍNTESE 235
IV.3. PERSPETIVANDO A INFLUÊNCIA OU O EPÍLOGO POSSÍVEL 250
BIBLIOGRAFIA 267
ÍNDICE ONOMÁSTICO 283
RESUMO
Com este estudo, procurou-se saber até que ponto existem semelhanças (e
divergências) entre as conceções de espaço, tempo e poder nas mitologias do Ḫatti, de
Ugarit e de Hesíodo, investigando-se depois a questão da influência. No campo do
espaço mitológico, foram encontradas semelhanças relativas: a) aos topoi da montanha e
do céu; b) à ideia de mundo inferior, de espaços da água e da terra; c) e ao modo de
referir a totalidade espacial. No domínio do tempo mitológico, foram encontrados
paralelos relativos: a) à origem do mundo e dos deuses, não obstante a muito maior
preocupação por este tema em Hesíodo; b) às formas narrativas e conceptuais de
estruturar o passado; c) ao sentido ritualizado do presente; d) à visão determinista do
futuro; e) e a certas ideias de finitude e infinitude. Observou-se ainda uma predominante
conceção de tempo linear nos textos hesiódicos, sendo relevante o conceito de tempo
circular, ou cíclico, no Ḫatti e em Ugarit. No estudo da organização dos poderes
divinos, verificaram-se similitudes: a) nas narrativas de luta e sucessão divina; b) em
várias características do rei divino, apesar do desinteresse anatólico antigo por este
tema; c) e em determinados modos de constituição de grupos divinos, com um forte
pendor familiar na composição ugaritiana destes agregados. As diversas semelhanças
parecem derivar de influência recíproca entre as áreas hatita e ugaritiana, havendo
bastantes fatores que apontam para fenómenos de transmissão cultural de morfologias
mitopoéticas do Ḫatti e de Ugarit à Grécia de Hesíodo.
i
ABSTRACT
This study aimed to know the extension of similarities (and differences) between
the conceptions of space, time and power in the mythologies of Ḫatti, Ugarit, and
Hesiod, and after that it was investigated the question of influence. In the field of the
mythological space, similarities were found: a) in the topoi of the mountain and the sky;
b) in the idea of the underworld and the water and land spaces; c) as well as in the way
to denote space totality. In the area of mythological time, were also found parallels
related with: a) the cosmos and gods origin, despite the much greater concern with this
subject in Hesiod; b) the narrative and conceptual ways of structuring the past; c) the
ritualized sense of the present; d) the deterministic view of the future; e) and with
certain ideas of finitude and infinitude. It was also seen a predominant linear
conception of time in the hesiodic texts, being very significant a notion of circular or
cyclic time in Ḫatti and Ugarit. In the study of the organization of the divine powers,
similarities were seen: a) in the narratives of struggle and divine succession; b) in
several characteristics of the divine king, despite the ancient anatolian disinterest in
this subject; c) and in some ways of constitution of divine groups, with a strong familiar
emphasis in the ugaritian composition of these aggregates. The several similarities
seem to arise from mutual influence between the hattite and ugaritian areas, and there
are many factors that point to phenomena of cultural transmission of the mythopoetical
morphologies of Ḫatti and Ugarit to the hesiodic Greece.
ii
PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS
Ugarit Ugarit
Ḫatti Ḫatti
Hesíodo Hesiod
Mitologia Mythology
Espaço Space
Tempo Time
Poder Power
Influência Influence
iii
HONORIS GRATIA
A natural procura humana do saber, aquela mesma que Aristóteles disse ser
constitutiva do ser humano (logo no início da Metafísica) é a razão principal da
existência da presente dissertação. Porém, não foi a única; vários fatores contribuiram
para que ela pudesse chegar à sua forma atual. E é este o espaço ideal para o lembrar.
Um decisivo contributo para esta dissertação veio justamente do seu estimado
orientador, Doutor Nuno Simões Rodrigues, quer na fase de ajustamento do projeto
inicial, quer ao longo da sua elaboração e finalização. A sua experiência, saber e
constante disponibilidade para avaliar o trabalho desenvolvido mostraram-se
indispensáveis na primeira receção do texto escrito, sempre valorizado com as suas
sugestões e contributos. Acresceram ainda os seus esforços no acesso à bibliografia
especializada que, como se sabe, continua bastante lacunar nas bibliotecas portuguesas.
Por tudo isto mais a sua bondade, aqui fica um sincero agradecimento.
Como seria de esperar, o estudo das línguas antigas mostrou-se um fator capital
para o acesso aos textos originais. Em boa medida, tal foi possibilitado pela
generosidade dos Professores que as ensinaram e, por essa razão, aqui lhes deixo um
franco agradecimento a todos eles. Em especial à minha querida Professora de Grego,
Doutora Ana Alexandra Alves de Sousa, que durante longos e breves anos me ensinou
uma das mais belas línguas, e ao Doutor José Augusto Ramos, não só pela sua
disponibilidade para o ensino do Ugaritiano e do Hebraico, em privilegiado regime
tutorial, mas também pelo entusiasmo partilhado no estudo das línguas antigas.
O enquadramento institucional das atividades científicas também é de lembrar,
pois deu um contributo muito importante para a investigação. Nesse sentido, deixo aqui
um bem haja a todas e a todos os funcionários da Biblioteca da Faculdade de Letras. Em
particular à D. Ana Paula Alexandre, pela sua simpatia e esforço na disponibilização de
bibliografia em trânsito da biblioteca do Instituto Oriental para a Biblioteca da
Faculdade de Letras. E também um bem haja às funcionárias da Secretaria da Faculdade
de Letras, pela sua diligente resolução dos necessários procedimentos.
Também não é possível esquecer os contributos da minha amiga Nídia Santos,
pela sua ajuda na disponibilização de bibliografia da área, e do meu amigo Armando
Norte, companheiro de alegres discussões que esteve sempre disponível para ajudar e
incentivar. A ambos agradeço com amizade.
iv
Por último, mas não menos importante, registo aqui a amizade, a compreensão, o
carinho e o incondicional apoio da Eduarda, dilecta companheira de longa data e sem a
qual este estudo não teria tido condições para ser realizado. Em boa verdade, também
em cada linha desta dissertação, qual inacabado palimpsesto, vive o seu amor original.
Covilhã, 17 de Setembro de 2012
v
ABREVIATURAS
Os acrónimos e abreviaturas usados neste estudo seguem as seguintes obras:
para autores gregos, o Greek-English Lexicon de H. G. Liddell, R. Scott et al.; para
autores latinos, o Oxford Latin Dictionary; para livros bíblicos, a Bíblia Sagrada dos
Missionários Capuchinhos. Os acrónimos das publicações periódicas seguem o
Dictionary of Bibliographic Abbreviations de J. S. Wellington. Os textos hatitas, sempre
que possível, são identificados pelo número CTH, atribuído por E. Laroche no
Catalogue des Textes Hittites, seguido de referências às tabuinhas, às linhas e por vezes
ao parágrafo, de acordo com a edição do texto. Os textos ugaritianos são identificados
pelo número KTU, atribuído por M. Dietrich, O. Loretz e J. Sanmartín em The
Cuneiform Alphabetic Texts: from Ugarit, Ras Ibn Hani and Other Places (KTU). São
ainda usadas as seguintes abreviaturas:
Acad. Acadiano (língua)
Al. Alemão (língua)
comm. comentário
Ebl. Eblaíta (língua)
Eg. Egípcio (língua)
frag. fragmento
Gr. Grego (língua)
Hat. Hatita (língua)
Heb. Hebraico (língua)
Hurr. Hurrita (língua)
Ing. Inglês (língua)
Luv. Luvita (língua)
Pal. Palaíta (língua)
s.d. sem data
Sum. Sumério (língua)
s./ss. e seguinte/e seguintes
trad. tradução
Ug. Ugaritiano (língua)
v./vv. verso/versos
vi
Description:101 As estruturas micénicas apresentavam relativa uniformidade antes desta derrocada: arquitectura, cerâmica mesopotâmica, em que alguns Anunnaki são aprisionados no APSÛ, no mundo inferior, por determinação de Ea (cf. For the further development, there arer two narrative options, two.