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A c l a u d i a r eg i n a
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I ilustr as: sil t akaza ki
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DICAS DE
FOTOGRAFIA
1ª edição
CLAUDIA REGINA e SIL TAKAZAKI
Rio de Janeiro
Claudia Regina
2015
SUMÁRIO
prefácio .......................................................................................................5
capítulo 1
o equipamento digital ..................................................................11
capítulo 2
a técnica ..................................................................................................47
capítulo 3
como criar fotos incríveis ...........................................................97
capítulo 4
luz ...............................................................................................................193
capítulo 5
edição ......................................................................................................231
capítulo 6
fotografia como profissão ........................................................263
por quê não fotografei a tapioquinha? ..........................289
configurações das fotos ...............................................................296
apêndices ..............................................................................301
Prefácio à primeira edição
Estava pertinho do meu aniversário, em março de 2013,
quando recebi uma ligação. Era um convite para escrever um
livro básico de fotografia. Me perguntei o que você talvez
tenha se perguntado também: “mais um livro de fotografia
básico?”
Durante esses mais de dois anos, percebi que a principal
razão que me fez aceitar essa ideia foi a oportunidade de
trazer um jeito brasileiro de falar sobre fotografia. Os livros
básicos mais conhecidos da área são todos traduzidos
de versões estadounidenses, e tenho que admitir: não
aguentava mais ter que ver fotos de lugares que não
conheço e de gente jogando futebol americano para
aprender a fotografar!
É claro que este incômodo é pequeno, comparado ao meu
incômodo com a forma de ver o mundo que nos é passada
através dos livros, filmes, e toda cultura de consumo e
desenvolvimento promovida pelos Estados Unidos. É por
este motivo, também, que tentei me desafiar a fazer deste
livro de fotografia uma pequena ponte para uma cultura
da nossa terra. Uma cultura de simplicidade e flexibilidade
(jeitinho) que, resistente, ainda existe no campo, nos povos
originários e em comunidades por todo o nosso país.
Este é um livro de fotografia, e não um livro sobre a crise do
mundo industrial em que vivemos. Então, não se preocupe:
você não vai encontrar essa visão no conteúdo, e sim na
forma de passá-lo. Uma simples diferença entre: “você
precisa comprar este produto para ser feliz, vai lá, compre
agora!” e “esta ferramenta pode te ajudar, mas se você não
tiver ela à mão pode usar outra coisa, fazer uma adaptação
ou viver sem ela.”
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6 Foi um livro que deu trabalho. Para mim, que escrevi e
reescrevi muita coisa, e para minha querida amiga Silmara,
que fez a diagramação e as ilustrações de uma forma incrível,
didática e cheia de sutilezas necessárias.
E por que distribuir de graça na internet um livro que deu
tanto trabalho?
O plano inicial era ter um livro impresso, de verdade, desses
que vendem na livraria. A editora que me convidou para
produzi-lo estava responsável por esta parte. Infelizmente,
tivemos algumas discordâncias sobre pontos do livro e
não foi possível chegarmos a um acordo. Por isso, preferi
distribuí-lo de graça.
E, no fim das contas, essa pendenga toda se mostrou positiva.
Foi graças a ela que criei a força necessária para colocar
este livro no mundo dentro de um contexto coerente com as
minhas próprias demandas.
Como pagamento, quero que você faça da sua fotografia uma
forma de reconhecer o mundo. Que a sua fotografia vá além
das suas necessidades de crescimento e felicidade pessoais, e
seja uma ferramenta de mudança sustentável. Não é possível
mudar tudo, mas podemos mudar a comunidade que nos
cerca e preparar o terreno para quem vem depois.
(Eu e a Sil ainda temos vínculos financeiros. Então você
também pode nos recompensar financeiramente, doando
um valor à sua escolha, caso esse seja seu desejo e
possibilidade.)
Um abraço bem apertado e boa leitura.
Claudia Regina
Rio de Janeiro, 1º de julho de 2015
Como ler este livro
Para que algo seja simples, é preciso suprimir algumas
informações. Fiz de tudo para ser precisa em todas as
explicações, mas muitas delas estão simplificadas para
o melhor entendimento da leitora iniciante. Se você já
entende de fotografia pode achar que algumas partes
estão muito óbvias ou que não citei todas as exceções.
Mas vamos deixar o avançado para os livros avançados,
não é mesmo?
Em alguns poucos momentos achei interessante
aprofundar assuntos específicos. Fiz isso em apêndices,
que estão no fim do livro. São detalhes um pouquinho
mais técnicos ou mais avançados que podem ser
interessantes para quem já tem algum conhecimento.
Se é a primeira vez que você lê sobre fotografia sugiro
deixar os apêndices para a segunda leitura, depois de
praticar bastante o conteúdo regular. Digo isso pois
esse tipo de conteúdo pode confundir se não houver
conhecimento prévio.
Talvez você note que falarei bastante sobre as leitoras,
as fotógrafas, e por aí vai. Meninos, não se sintam
excluídos: este livro não é só para mulheres. Sigo
a tendência de pessoas acadêmicas da atualidade
que buscam escrever usando a linguagem de forma
não sexista ou binária. Nos momentos em que não
consegui excluir marcações de gênero por completo,
usei o feminino como gênero neutro. Este livro é para
todos que gostam de fotografia, não importa se você é
menino, menina, ou nenhuma das duas.
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8 O que é uma boa foto?
Imagino que, ao ler um livro de fotografia, um dos seus
objetivos seja fazer fotos boas. Não é por acaso que
o tipo de mensagem que mais recebo de quem está
começando é assim:
– Olha as minhas fotos e me diz se estão boas?
Meu companheiro, o escritor Alex Castro, recebe este
mesmo tipo de pergunta de iniciantes que gostariam
de ingressar na literatura. Tudo que ele fala sobre
textos pode ser extrapolado, sem tirar nem pôr, para
fotografias:
“Um texto [...] só pode ser bom em função do que
ele se propõe. Nada existe no vácuo.
O texto que é excelente para fazer rir pode ser
péssimo em causar terror. O texto que é excelente
para informar sobre química orgânica é péssimo em
ensinar inglês.
Se o autor não sabe para que o texto serve, se não
sabe para que escreveu aquele texto, então o texto
não tem chance de ser bom. Ou melhor, pode até
ser bom, mas por acidente e à revelia, do mesmo
modo que um relógio parado estará certo uma vez
a cada doze horas – e errado praticamente o tempo
todo.
Um martelo é bom se eu tenho um prego para
enfiar em uma parede. Se eu quero fritar um ovo ou
trocar uma lâmpada, o martelo não me serve pra
nada.”
Por isso, se você me perguntar “esta minha foto está
boa?”, não saberei responder.
Uma foto desfocada pode ser adequada para uma
exposição de arte. Uma foto desfocada pode ser
inadequada para um catálogo de produtos do
supermercado. Colocar uma chamada dizendo “parcele
em 12x sem juros” no seu site pode ser perfeito
caso seu público-alvo seja de baixa renda, mas pode
também afugentar potenciais clientes arrogantes e de
alto poder aquisitivo.
A boa foto é aquela que teve mais compartilhamentos
na rede social do momento? A que foi vendida por um
preço mais alto no leilão? É a que fez clientes chorarem
de emoção? A que ganhou um Pulitzer? A resposta
depende da pergunta principal: por que você fez essa
foto?
O contexto histórico e autoral também é muito
importante para qualquer obra: a Mona Lisa, se pintada
hoje, não é revolucionária. Uma foto do Sebastião
Salgado, se tivesse sido tirada por mim, não seria
considerada genial. A história contada pela foto,
independente da técnica utilizada, pode ser crucial para
sua relevância.
Eu não sei a receita da foto revolucionária ou genial,
mas a partir do capítulo três vou falar mais sobre as
regras para fotos esteticamente adequadas. Regras
que seguem as mesmas premissas das outras artes
visuais (como a pintura e o design.) Vamos falar sobre
composição, sobre cores e sobre algumas técnicas
consideradas ideais para determinados tipos de fotos.
Sempre que falo alguma dessas regras, vem alguém
retrucar: “Ah, mas eu vi uma foto premiada de uma
pessoa incrível e famosa que não segue essa regra! O
que você tem a dizer sobre isso?”
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0
1 O que eu tenho a dizer é simples: é preciso ler e
escutar de forma crítica quando colegas dão suas
dicas e impressões. Regras servem como ferramenta
para chegar no seu objetivo. E quebrá-las pode ser o
caminho para chegar nele tanto quanto seguí-las.
Sempre que você escutar alguém dizendo que para
conseguir fazer fotos bonitas você deve fazer isso e não
deve fazer aquilo, escute, aprenda, e depois considere
fazer o contrário. Lembre de ler este livro – e outros
– com isso em mente.