Table Of ContentA Alquimia do Amor Amanda Quick
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Projeto_romances
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Revisado por Ana Paula
A Alquimia do Amor
(Mystique)
Amanda Quick
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Projeto Romances 1
A Alquimia do Amor Amanda Quick
Capítulo 1
Alice se orgulhava de sua inteligência e de ter recebido uma boa educação
lógica. Era uma dama que nunca tinha dado muito crédito às lendas. Mas era
porque jamais tinha precisado que uma lenda a ajudasse até pouco tempo atrás.
Essa noite, desejava acreditar e, de fato, havia uma lenda vivente sentada à
cabeceira da mesa, no salão do Lingwood Manor, a propriedade familiar.
O sombrio cavalheiro ao que chamavam Hugh o Implacável, jantava sopa de
legumes e salsicha de porco, como se fosse um homem comum. Alice deduziu
que até uma lenda tinha que comer.
Essa ideia prática lhe deu ânimos enquanto descia as escadas da torre.
Colocou o seu melhor vestido para tão importante ocasião, feito de veludo
verde escuro, e debruado com cinta de seda. Tinha o cabelo preso com uma fina
rede de contas de ouro que tinha sido de sua mãe, e fixado com uma delicado
presilha de metal dourado. E calçava sandálias de couro verde. Alice não podia
estar mais disposta para sair ao encontro de uma lenda.
Entretanto, a cena com que se deparou ao final das escadas, a fez vacilar.
Talvez Hugh o Implacável comesse como um homem qualquer, mas aí
terminava a semelhança. Percorreu-a um pequeno estremecimento, em parte de
temor, em parte de expectativa. Todas as lendas eram perigosas, e sir Hugh
não era a exceção.
Deteve-se no último degrau, as saias presas com as mãos, e contemplou
inquieta o salão lotado. Sentiu uma sensação de irrealidade e, por um momento,
imaginou que tinha entrado na oficina de um feiticeiro.
Embora estevesse cheio de gente, no recinto reinava uma estranha
quietude. O ar era pesado, como carregado de sombrias maravilhas e lúgubres
advertências. Ninguém se movia, nem os criados.
O harpa do trovador silenciou. Os cães se escondiam sob as mesas largas,
sem fazer caso dos ossos que estavam no chão. Os cavalheiros e soldados
sentados nos bancos pareciam feitos de pedra.
As chamas do salão principal se agitavam inutilmente para as sombras que
pareciam mexer e turvar o ambiente.
Era como se tivessem lançado um feitiço sobre o salão, antes familiar,
convertendo-o em um lugar estranho e antinatural. "Não teria que me
surpreender –pensou Alice-. Hugh o Implacável tem uma reputação mais
aterradora que a de qualquer mago."
Projeto Romances 2
A Alquimia do Amor Amanda Quick
No final das contas, este era o homem em cuja espada estava gravada,
conforme diziam, a expressão Provocadora de Tormentas.
Alice contemplou as feições obscurecidas do Hugh através de todo o salão,
e se convenceu de três coisas com total certeza. A primeira, que as
tempestades mais perigosas eram as que se agitavam dentro do indivíduo, e não
as que lhe atribuíam à espada. A segunda, que continha os ventos sinistros que
uivavam dentro dele com vontade inflexível e decisão férrea.A terceira, que
soube em um único olhar, foi que Hugh sabia como usar essa reputação em seu
próprio benefício. Embora na aparência era um convidado, dominava a todos os
presentes no salão.
-É lady Alice?
Hugh falou do fundo dessas sombras opressivas, e sua voz soou como se
viesse do fundo de um profundo lago, no interior de uma cova muito profunda.
Os rumores que o precediam não exageravam. O sombrio cavalheiro estava
vestido totalmente de negro, sem adornos, nem bordados. Túnica, cinturão,
botas... toda da cor de uma noite sem estrelas.
-Eu sou Alice, meu senhor. -Fez uma profunda reverência, pois as boas
maneiras nunca fariam mal à própria causa. Quando ergueu a cabeça, viu Hugh
olhando-a, fascinado - Ordenou que me buscassem, senhor.
-Sim, senhora. Por favor, aproxime-se para que possamos falar. -Não era
uma petição-. Tenho entendido que você tem em seu poder algo que me
pertence.
Era o momento que Alice tinha estado esperando. Levantou-se lentamente
depois do gracioso gesto de submissão. Avançou entre as filas de largas mesas,
esforçando-se por recordar tudo o que tinha averiguado sobre o Hugh nos
últimos três dias.
No melhor dos casos, a informação era escassa e se apoiava, mais que nada,
em intrigas e mitos. Não lhe bastava esse conhecimento. Tinha querido saber
mais porque muitas coisas dependiam de como tratasse esse homem nos
próximos minutos. .
Mas o tempo tinha terminado. Teria que aproveitar ao máximo os dados
fragmentados que conseguiu reunir entre os falatórios que percorriam a aldeia
e o salão do tio.
O suave murmúrio de suas saias sobre as tábuas do chão e o ranger do fogo
foi o único som que se ouviu no grande recinto. Sobre o lugar pendia uma
atmosfera de terror e excitação.
Projeto Romances 3
A Alquimia do Amor Amanda Quick
Alice lançou um olhar a seu tio, sir Ralf, que estava sentado junto ao
perigoso hóspede. A cabeça calva do tio tinha um filete de suor. A figura
roliça, embelezada com uma túnica de cor escura que enfatizava o corpo gordo,
estava perdida nas sombras que pareciam emanar do Hugh. Uma das mãos
gordinhas de Ralf, carregada de anéis, rodeava uma jarra de cerveja, mas não
bebia.
Pelas atitudes altissonantes e fanfarronas do tio, Alice sabia que estava
ansioso ao ponto de sentir um puro terror. Os joviais primos da Alice, Gervase
e William, também estavam assustados. Sentados rígidos a uma das mesas mais
baixas, tinham os olhos fixos em Alice. A moça percebia o desespero, e
entendia o motivo. Frente a eles, com semblante sério, estavam sentados os
homens do Hugh, endurecidos nas batalhas, enquanto que o fogo fazia brilhar
os punhos de suas espadas.
Alice tinha a missão de aplacar Hugh. Dependia dela que essa noite não
corresse sangue.
Todos sabiam por que Hugh o Implacável tinha ido ao Lingwood Hall. Só os
habitantes sabiam que o que procurava não estava ali, e o que fazia tremer os
joelhos de todos era a possível reação do sujeito quando se inteirasse da
novidade.
Decidiu-se que Alice teria que lhe explicar a situação. Nos últimos três dias,
desde que se soube que o aterrador cavalheiro se aproximava, Ralf se queixava
em voz alta perante todos, de que o desastre iminente seria culpa apenas de
Alice.
O tio insistia em que a sobrinha tinha que se encarregar do peso de tratar
de convencer Hugh de não destruir o feudo em retalhação. Alice sabia que seu
tio estava furioso com ela. Também sabia que estava muito assustado... e tinha
razão.
Lingwood Manor contava com um pequeno e matizado contingente de homens
armados, mas que em seu interior eram mas bem granjeiros que guerreiros.
Faltava-lhes experiência e instrução apropriadas. Não era nenhum segredo que
a propriedade seria incapaz de resistir a um possível assalto do legendário
Hugh o Implacável. Em menos tempo que tem contado, ele e seus homens
converteriam o lugar em ruínas.
Ninguém achou estranho que Ralf esperasse que a sobrinha assumisse a
responsabilidade de acalmar Hugh. Mais até: quase todos ficariam supresos se
tal não tivesse ocorrido. No feudo, todos sabiam que Alice não era fácil de
intimidar, nem por uma lenda.
Projeto Romances 4
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Aos vinte e três anos, era uma mulher com idéias próprias, e poucas vezes
vacilava em mostrá-las. Sabia que seu tio se queixava de que fosse tão decidida
e que, a suas costas, chamava-a de bruxa, salvo quando necessitava de algumas
das poções que preparava a moça para aliviar as articulações doloridas.
Alice se considerava resolvida mas não tola: tinha consciência dos perigos
desse momento. Mas também sabia que a chegada do Hugh significava uma
oportunidade que não podia perder. Se não, ela e seu irmão ficariam presos
para sempre em Lingwood Manor.
Deteve-se frente à cabeceira da mesa e olhou ao homem carrancudo,
sentado na melhor cadeira de carvalho esculpida do salão.
Dizia-se que, até sob a melhor luz, Hugh o Implacável não tinha aparência
agradável, mas essa noite, a combinação de chamas e sombras conferia a suas
feições o aspecto ameaçador do diabo.
Tinha o cabelo mais negro que o corvo, penteado, caiam em ondas sobre a
fronte. Os olhos, de um estranho matiz dourado ambarino, brilhavam de
inteligência e impiedade. Era evidente como tinha conquistado o apelido de
Implacável. Alice soube imediatamente que esse homem não se deteria diante
de nada para obter seus fins.
Embora sentisse um calafrio, a decisão da Alice não vacilou.
-Lady Alice, decepcionou-me que preferisse não comer conosco -disse Hugh
lentamente-. Disseram-me que você fiscalizou a preparação.
-Sim, milorde. -Dedicou-lhe seu sorriso mais luminoso. Um dos dados que
conseguiu descobrir foi que ao Hugh gostava dos pratos bem preparados.
Estava segura de que a comida tinha estado além de toda crítica-. Gostou?
-Interessante pergunta. -Pensou um momento, como se fosse um problema
de filosofia ou de lógica-. Não encontrei problemas no sabor nem na variedade
de pratos. Confesso que comi até me fartar.
O sorriso da Alice se evaporou. Irritaram-na a mesura das palavras e a
óbvia falta de entusiasmo. Esse dia, tinha passado horas nas cozinhas
controlando os preparativos do banquete.
-Alegra-me saber que não encontrou nenhum problema nos pratos, milorde.
Pela extremidade do olho percebeu que seu tio se encolhia diante do tom
cortante da sobrinha.
-Não, não havia nada de mau na comida --concedeu o cavalheiro--. Mas devo
admitir que quando uma pessoa se inteira de que a pessoa que fiscalizou os
Projeto Romances 5
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preparativos decide não comê-la, não pode descartar a possibilidade de que
haja veneno.
-Veneno! - indignou-se. -A mera idéia de acrescentar condimento à comida,
não é assim?
Ralf se encolheu como se Hugh acabasse de tirar a espada. De onde
estavam os criados emergiu uma exclamação de horror. Os soldados se
mexeram, inquietos. Alguns dos cavalheiros colocaram as mãos nos punhos das
espadas. Gervase e William pareciam a ponto de adoecer.
-Não, milorde -apressou-se a balbuciar Ralf-, asseguro-lhe que não há o
menor motivo para suspeitar que minha sobrinha possa ter envenenado a sua
comida, eu juro, senhor, por minha honra, ela não seria capaz de fazer algo
assim.
-Como ainda estou aqui, e muito bem depois de ter jantado soberbamente,
inclino-me a estar de acordo com você --disse Hugh-. Mas não pode deixar de
entender minha cautela, diante dessas circunstâncias.
-E que circunstâncias seriam essas, milorde? -perguntou Alice.
Quando o tom de Alice passou de cortante a grosseiro, viu que Ralf fechava
com força os olhos, desesperado. Ela não tinha a culpa de que a conversação
não tivesse começado com um tom amigavél. Quem lhe infundiu antagonismo foi
Hugh, não ela.
Veneno, caramba! Como se pudesse ocorrer-lhe semelhante coisa!
Teria podido usar uma das receitas mais insalubres de sua mãe só como
último recurso e, se um de seus informantes a tivesse convencido de que Hugh
era estúpido, cruel, um tipo brutal, carente de inteligência. "E até nessas
condições -pensou, cada vez mais indignada-, não me ocorreria matá-lo."
Limitaria-se a usar uma das preparações inofensivas cujo único efeito seria
deixar a ele e a seus homens tão sonolentos ou nauseados que fossem incapazes
de matar aos habitantes da casa a sangue frio.
Hugh observou a Alice. E então, como se lhe lesse os pensamentos, sua boca
desenhou um sorriso perverso que não tinha nem um pingo de bondade, só uma
grande ironia
-Senhora, culpa-me por ser cauteloso? Recentemente soube que você
estuda textos antigos. É bem sabido que os antigos tinham grande inclinação
para os venenos. Além disso, inteirei-me de que sua própria mãe era uma perita
nas ervas estranhas e pouco comuns.
-Senhor, como se atreve? -Já estava furiosa, e esqueceu qualquer idéia de
tratar a esse homem com cuidado e circunspeção-. Sou estudiosa, não
Projeto Romances 6
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envenenadora. Estudo matérias de filosofia natural, não de magia negra. Em
efeito, minha mãe era uma perita herbanária e grande curadora. Mas jamais
teria usado suas habilidades para machucar a ninguém.
-Certamente, alivia-me sabê-lo.
-Eu tampouco tenho intenções de matar pessoas -continuou Alice-. Nem
sequer a hóspedes grosseiros, ingratos como você, milorde.
A Jarra de cerveja tremeu na mão de Ralf.
-Alice, pelo amor de Deus, cale-se.
A sobrinha não lhe fez caso e olhou ao Hugh com olhos entreabertos.
-Pode estar seguro de que nunca em minha vida matei ninguém, senhor.
Mas, não é uma afirmação que se possa fazer com respeito a você.
O silêncio mortal se quebrou pelas exclamações cheias de horror de vários
dos presentes. Ralf gemeu e colocou a cabeça entre as mãos. Gervase e William
estavam chocados.
Hugh era o único no salão que permanecia imperturbável. Contemplou Alice
com expressão pensativa:
-Temo que esteja certa, senhora –disse em tom suave-. Não posso afirmar
isso.
A simplicidade da admissão teve para Alice o efeito de ter se chocado
contra uma parede de tijolos. interrompeu-se de repente.
Piscou e recuperou o equilíbrio.
-Sim, bom, aí está.
Os olhos ambarinos brilharam de curiosidade. –Senhora, onde estamos,
exatamente?
Enchendo-se de atitude, Ralf tratou de deter a espiral descendente da
conversação. Levantou a cabeça, secou-se a fronte na manga da túnica, e olhou
ao Hugh com expressão de súplica:
-Senhor, rogo-lhe entenda que minha sobrinha não quis ofendê-lo.
O aludido compôs uma expressão dúbia. -Não?
-Claro que não -exclamou Ralf-. Não há motivos para suspeitar dela só
porque preferiu não jantar conosco. Para falar a verdade, Alice nunca janta
aqui no salão principal, com o resto dos habitantes da casa.
-Que estranho -murmurou Hugh. Alice tamborilou com a ponta da sandália. -
Senhores, estamos perdendo o tempo. Hugh lançou um olhar para Ralf.
-Afirma que... bem, prefere a solidão de seu próprio quarto -apressou-se a
explicar Ralf.
-E, por que?
Projeto Romances 7
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Hugh se concentrou outra vez em Alice.
Ralf resmungou:
-Diz que, para ela, aqui no salão principal o nível... bem... do discurso
intelectual, como o chama, é muito pobre.
-Entendo.
Ralf lançou a sua sobrinha um olhar hostil, acalorando-se com uma antiga
queixa.
-Ao que parece, a conversação que sustentam na mesa os cavaleiros
honestos, de corações rebeldes não é elevada o bastante para as exigências de
milady.
Hugh ergueu as sobrancelhas.
-Como? A lady Alice não gosta de ouvir detalhes da prática matinal de tiro
dos homens nem dos êxitos na caça?
Ralf suspirou:
-Não, milord, lamento dizer que não manifesta interesse em tais assuntos.
Em minha opinião, minha sobrinha é o exemplo perfeito para mostrar a
estupidez de educar às mulheres. As deixam obstinadas. Faze-as acreditar que
deveriam vestir calças. O pior é que gera ingratidão e falta de respeito pelos
pobres, desventurados homens encarregados de protege-las, que têm a triste
responsabilidade de alimentá-las e as vesti-las.
Zangada, Alice lhe lançou um olhar fulminante. -Tio, isso é mentira. Sabe
bem que estou muito agradecida pelo amparo que brindou a meu irmão e a mim.
Onde estaríamos se não fosse por você?
Ralf se indignou.
-Vamos, Alice, já é suficiente.
-Direi onde estaríamos Benedict e eu se não tivesse sido por seu generoso
amparo. Estaríamos sentados em nosso próprio salão, jantando em nossa mesa.
-Pelo sangue dos Santos, Alice, ficou louca? -Olhou-a com crescente horror-
Não é momento de discutir esse assunto.
-Certo. -Esboçou um sorriso amargo-. Mudaremos de assunto. Prefere que
falemos de como calculou tudo para gastar o pouco que restava de minha
herança que eu consegui preservar, depois que deu a propriedade de meu pai a
seu filho?
-Maldição, não é uma mulher de hábitos baratos. -Por um momento, a
inquietação do Ralf pela presença do Hugh cedeu passo à larga lista de queixas
que tinha contra Alice- Esse último livro que quis comprar custou mais que um
bom cão de caça.
Projeto Romances 8
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-Era um importante escrito do bispo Marbode do Rennes -replicou Alice-.
Estabelece as propriedades de todas as gemas e pedras, e foi uma compra
excelente.
-Ah, sim? -resmungou Ralf-. Bom, me deixe dizer no que outra coisa se
poderia ter gasto melhor essa soma.
-Basta.
Hugh tomou sua taça com uma mão grande e bem formada.
Embora o gesto fosse mínimo, ao vir das profundidades do vasto poço de
quietude que o rodeava, sobressaltou a Alice, que retrocedeu um passo sem
querer.
Ralf se apressou a esconder qualquer outra acusação que queria lhe fazer.
Alice se ruborizou, zangada e envergonhada da estúpida discussão. "Como se
não tivéssemos questões mais importantes que tratar -pensou-. Este caráter
feroz é minha ruína."
Por um instante, perguntou-se com certa inveja como teria obtido Hugh um
domínio tão grande de seu próprio temperamento. Pois não hávia dúvida de que
o continha com mão de ferro. Era uma das características que o faziam tão
perigoso
Quando a olhou, os olhos do Hugh refletiam as chamas da lareira.
-Vamos interromper esta disputa familiar que, sem dúvida, é de longa data.
Não tenho tempo nem paciência para resolvê-la. Lady Alice, sabe para que vim
aqui esta noite?
-Sim, milorde. -Decidiu que não tinha sentido lhe dar voltas à questão-.
Buscar a pedra verde.
-Estive atrás da pista desse maldito cristal a mais de uma semana, senhora.
No Clydemere me inteirei de que a tinha comprado um jovem cavalheiro de
Lingwood Hall.
-De fato, assim foi, milord -disse Alice com vivacidade.
Estava tão impaciente por resolver o assunto como ele. -Para você?
-Correto. Meu primo Gervase descobriu que um vendedor a tinha na Feira
do Verão do Clydemere. -Viu que, ao ouvi-la mencionar, Gervase se
sobressaltava-. Meu primo sabia que eu acharia a pedra muito interessante, e
teve a gentileza de me traze-la.
-Disseram-lhe que, depois, encontraram o vendedor com a garganta
cortada? -perguntou Hugh, com tom indiferente.
A boca de Alice secou.
-Não, senhor. É evidente que Gervase não estava informado da tragédia.
Projeto Romances 9
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-Assim parece.
O cavalheiro lançou ao Gervase um olhar de caçador. Gervase abriu e fechou
a boca duas vezes, até que conseguiu dizer:
-Juro que não sabia quão perigoso era o cristal, senhor. Não era muito caro,
e acreditei que seria divertido para Alice. É muito aficionada às pedras pouco
comuns e coisas assim.
-O cristal verde não tem nada de divertido. -Hugh veio um pouco para
frente, modificando o desenho de luzes e sombras sobre suas feições rudes,
que se tornaram mais demoníacas-. Para falar a verdade, quanto mais o persigo,
menos divertido me parece.
Alice franziu o cenho quando algo lhe ocorreu. -Está seguro de que a morte
do vendedor estava relacionada com o cristal, milorde?
Hugh a olhou como se lhe tivesse perguntado se saía o sol pela manhã.
-Dúvida de minha palavra?
-Não, claro que não. -Abafou um pequeno gemido. Os homens eram tão
suscetíveis no que se referia a suas capacidades lógicas É que não vejo a
relação entre a pedra verde e o assassinato de um vendedor.
-Sério?
-Sim. Até onde sei, a pedra verde não é especialmente atrativa nem valiosa.
De verdade, em comparação, é um cristal bem feio.
-Certamente, aprecio sua opinião de perita. Alice não fez caso da ironia,
pois sua mente avançava seguindo a lógica do problema.
-Admito que um ladrão cruel poderia ter assassinado para obter a pedra se
tivesse a impressão equivocada de que tinha valor. Mas, na realidade, era
bastante enganosa, pois do contrário Gervase jamais a teria comprado. Além
disso, por que teriam que assassinar o pobre comerciante quando já tinha
vendido a pedra? Não tem sentido.
-Em semelhante situação, o assassinato é muito lógico tratando de cobrir os
rastros -disse Hugo com muita suavidade-. Asseguro-lhe que homens mataram
e foram assassinados por motivos muito menores.
-Sim, pode ser. -Apoiou o cotovelo na mão e tamborilou com os dedos no
queixo-. Por todos os Santos, juro que os homens são muito hábeis para fazer
uso de violência desnecessária.
-Costuma acontecer -admitiu Hugh.
-De todos os modos, salvo que tenha evidência concreta que assinale uma
relação clara entre o assassinato do comerciante e o cristal verde, não sei
como pode chegar à conclusão certa de que há uma relação, senhor.
Projeto Romances 10