Table Of ContentJorge Ferreira
João Goulart
Uma biogra�a
2ª edição
2011
Copyright © Jorge Ferreira, 2011
REVISÃO TÉCNICA
Angela de Castro Gomes
CAPA E ENCARTE
Leonardo Iaccarino
FOTO DE CAPA
Bachrach/Getty Images (João Goulart em Nova York, 1962)
DIAGRAMAÇÃO DE MIOLO DA VERSÃO IMPRESSA
Abreu’s System
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
F44j
Ferreira, Jorge
João Goulart [recurso eletrônico] : uma biogra�a / Jorge Ferreira. -
1. ed. - Rio de Janeiro : Civilização brasileira, 2014.
recurso digital
Formato: ePub
Requisitos do sistema: Adobe Digital Editions Modo de acesso:
World Wide Web Inclui bibliogra�a
ISBN 978-85-200-1254-3 (recurso eletrônico) 1. Goulart, João,
1918-1979. 2. Presidentes - Brasil - Biogra�a. 3. Brasil - Política e
governo. 4. Livros eletrônicos. I. Título.
14-15759
CDD: 923.181
CDU: 929:32(81)
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EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA
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Produzido no Brasil
2011
Dedico este livro ao meu pai
Sumário
INTRODUÇÃO
Janguinho e Jango Goulart
CAPÍTULO 1
O aprendiz e seu feiticeiro
CAPÍTULO 2
O ministro do povo
CAPÍTULO 3
Épocas de crises
CAPÍTULO 4
No governo e na oposição: dilemas de um vice-presidente
CAPÍTULO 5
A luta pela posse
CAPÍTULO 6
O difícil caminho do meio
CAPÍTULO 7
De março a março: os caminhos da radicalização
CAPÍTULO 8
FOTOS
Rumo ao desastre
CAPÍTULO 9
Dois dias �nais
CAPÍTULO 10
Exílio uruguaio — Parte 1
CAPÍTULO 11
Exílio uruguaio — Parte 2
CAPÍTULO 12
Exílio argentino
CAPÍTULO 13
PALAVRAS FINAIS
FONTES
BIBLIOGRAFIA
ÍNDICE ONOMÁSTICO
Introdução
Em �ns de maio de 1972, Darcy Ribeiro escreveu uma carta para Glauber
Rocha. O antropólogo, em tom afetivo, se queixava do pedido que o cineasta
lhe �zera: “Pede, nada menos, que eu entre na alma do Jango para interpretar
seus desígnios passados e futuros, para avaliar suas convicções e para captar sua
visão de mundo.1” Em seu argumento, Darcy pedia que Glauber imaginasse
alguém fazendo o mesmo com ele ou, pior, que ele �zesse aquilo com si
próprio. “Não acha que seria impossível?”, indagou.
A prudência de Darcy Ribeiro, no entanto, não serviu de exemplo para
diversos estudiosos. Mesmo pro�ssionais de reconhecida competência e
sensibilidade, diante da imagem de Goulart, arriscam-se a descrevê-lo com
frases de pouquíssimas linhas. É o caso de Amir Labaki, que, muito
rapidamente, traça o per�l do ex-presidente: “Há uma de�nição de seu
posicionamento ideológico que o classi�cou como um latifundiário com
saudável preocupação social.” E ainda acrescenta: “Difícil dizer melhor.”2
Alguns, como Claudio Bojunga, em sua brilhante biogra�a de JK, ao descrever
Goulart na época em que era ministro do Trabalho, desconhecem a imensa
popularidade do homem que, na época, herdava o patrimônio político de
Getulio Vargas: “Na verdade, Jango só tinha prestígio junto aos pelegos, sendo
praticamente desconhecido da grande massa dos trabalhadores.”3 Dois anos
depois, o “praticamente desconhecido” candidato a vice-presidente teria mais
votos do que seu cabeça de chapa, Juscelino Kubitschek. Autor de uma
importante obra sobre a ditadura militar, Elio Gaspari a�rma que “sua
biogra�a raquítica fazia dele um dos mais despreparados e primitivos
governantes da história nacional. Seus prazeres estavam na trama política e em
pernas, de cavalos ou de coristas”. E mais adiante completa: “condicionantes de
classe interferem na conduta dos homens públicos, podendo levá-los da
temeridade à vacilação e dela ao imobilismo, mas no caso de João Goulart,
independentemente da classe em que estivesse, ele seria sempre um pacato
vacilante”.4 Outros são ainda mais exigentes. Daniel Aarão Reis Filho, por
exemplo, diz que Jango, “apavorado diante do incêndio que provocara sem
querer, horrorizado com a hipótese de uma guerra civil que não desejava,
decidiu nada decidir e saiu da História pela fronteira com o Uruguai”.5 Na
avaliação da trajetória política de João Goulart de 1945 a 1964, o crítico mais
contundente e mordaz, sem dúvida, é Marco Antônio Villa. Logo de início, na
primeira página da introdução do livro, o autor diz que Jango era “fraco”,
“conciliador”, “inconsequente” e “incapaz” para administrar o país, embora, a
seguir, garanta ao leitor que se afastou “deliberadamente de análises
preconcebidas”.6 Ao �nal, na conclusão, ressalta seu despreparo, sua
incompetência e sua marca na política brasileira: o “desprezo pelos valores
republicanos”. Desse modo, continua o autor, “só restou como saída a fuga,
sem glória, para o exílio”. Ao morrer, tornou-se uma lenda — daquilo que,
para Villa, ele não teria sido —, a do presidente democrata e reformista.
Resumindo o quadro de desquali�cações, para a direita civil-militar que o
derrubou da presidência da República, tratava-se de um demagogo, fraco,
corrupto e inepto; para as esquerdas, um líder burguês de massa, com vocação
inequívoca para trair a classe trabalhadora; para a ortodoxia marxista-leninista,
uma liderança cuja origem de classe marcou seu comportamento dúbio e
vacilante. Para a maioria, um consenso: tratava-se de um “populista” — ou, nas
palavras de omas Skidmore, “um populista de pouco talento”.7 Outros
adjetivos, sempre demeritórios, poderiam completar a lista: “despreparado”,
“ignorante” e “medíocre”.
Di�cilmente Goulart poderia ser quali�cado dessa maneira. Deputado
estadual, secretário de Estado, deputado federal, ministro do Trabalho, duas
vezes vice-presidente da República, presidente do Senado Federal e investido na
própria presidência da República, conhecia a fundo o aparelho burocrático de
Estado, seus meandros e descaminhos. Formou-se em Direito e, sobretudo, em
“política brasileira” pelas mãos de Getulio Vargas.
Outra questão importante para o desmerecimento de João Goulart são as
denúncias sobre as relações, nem sempre pautadas pela ética, entre suas bases
de apoio político e as benesses o�ciais. As acusações não são destituídas de
fundamento, mas criou-se uma imagem distorcida do tema, como se o
�siologismo, o empreguismo e o uso da máquina estatal com �ns políticos
fossem tradições inauguradas por Vargas e tivessem atingido seu apogeu com
Goulart. Nesse aspecto, Claudio Bojunga, com razão, nos alerta: “Mais do que
o autoritário Vargas, muito mais do que Jânio e Goulart, Juscelino distribuiu
favores e empregos, e trilhou os caminhos da negociação política nos termos
tradicionais da classe política brasileira. Cartórios, nomeações, promoções eram
armas prediletas para a cooptação”. E continua: “Existiam dezenas de maneiras
de retribuir, recompensar, garantir, facilitar, agilizar, azeitar e contribuir.”8
Evidentemente que não é o caso saber qual dos presidentes da República mais
utilizou recursos desse tipo. Trata-se, sim, de reconhecer que é uma tradição
nas relações políticas entre os poderes da República no Brasil, seja nos
municípios, seja nos estados, seja em Brasília — na época de Goulart, antes ou
depois dele.
As imagens negativas que envolvem o nome de Jango permitem, desse
modo, que outros ex-presidentes da República, como Vargas e Juscelino,
continuem presentes nas memórias o�cial e popular, mas Goulart não. Ele se