Table Of ContentA ARTE NO MUNDO DOS HOMENS
O ITINERÁRIO DE LUKÁCS
COLEÇÃO ARTE E SOCIEDADE
Karl Marx e Friedrich Engels
Cultura, arte e literatura: textos escolhidos
Gyürgy Lukács
Marxismo e teoria da literatura
Adolfo Sánchez Vázquez
As ideias estéticas de Marx
Iná Camargo Costa
Nem uma lágrima
Ludovico Silva
O estilo literário de Marx
Leandro Konder
Os marxistas e a arte
CELSO FREDERICO
A ARTE NO MUNDO DOS HOMENS
O ITINERÁRIO DE LUKÁCS
1 edição
a
Editora Expressão Popular
São Paulo - 2013
Copyright © 2013 by Editora Expressão Popular
Revisão: Lia Urbini e Maria Elaine Andreoti
Capa, Projeto gráfico e Diagramação: Krits Estúdio
Impressão: Bartira
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
Frederico, Celso, 1947-
F852a A arte no mundo dos homens: o itinerário de Lukács. I
Celso Frederico.-1.ed.-São Paulo: Expressão Popular,
2013.
Indexado em GeoDados -http://www.geodados.uem.br
ISBN 978-85--7743-215-8
1. Arte e filosofia. 2. Estética. 3. Lukács, Gyorgy, 1885-
19711. Título. li. Série.
CDU 7.013
CDD 701
Catalogação na Publicação: Eliane M. S. Jovanovich CRB 9/1250
1ª edição: abril de 2013
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro
pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização das editoras.
Editora Expressão Popular Ltda.
Rua Abolição, 201 1B ela Vista 101319-0101 São Paulo-SP
Tel [11] 3105 9500 13522 751614063 41891 Fax [11] 3112 0941
[email protected] 1w ww.expressaopopular.com.br 1e ditora.expressaopopular.com.br
Para Marina Yatsuda Frederico
SUMÁRIO
Introdução ........................................... 9
PARTE 1
A ARTE NOS MANUSCRITOS ECONÔMICO-FILOSÓFICOS
CAPÍTULO I. Hegel, Feuerbach: a arte e o sensível ............ 25
Hegel e a Estética: a verdade no sensível .................. 26
Feuerbach e a Estética: a verdade do sensível .............. 30
O legado de Feuerbach ............................... 38
CAPÍTULO 2. Marx: a arte como práxis .................... 43
PARTE II
Ü ITINERÁRIO DE LUKÁCS
CAPÍTULO 3. Sujeito, objeto, totalidade .................... 59
CAPÍTULO 4. Um difícil recomeço: Arte e verdade objetiva ..... 75
Da teoria do reflexo ao "realismo socialista" .............. 77
Arte e verdade objetiva ............................... 82
CAPÍTULO 5. Literatura e conhecimento: o Realismo .......... 89
Realidade e Realismo ................................ 89
O debate sobre o Expressionismo ....................... 92
A crítica ao Naturalismo .............................. 93
A crítica ao "romance proletário" e ao "realismo socialista" .. 94
CAPÍTULO 6. Lukács e Brecht ............................ 97
O primado da totalidade: romance e decadência ideológica ... 98
Brecht contra Lukács ............................... 100
Lukács contra Brecht ............................... 102
CAPÍTULO 7. O Realismo como método ................... 105
A tipicidade ....................................... 105
O método narrativo ................................ 109
CAPÍTULO 8. A Estética ............................... 113
Arte e vida social .................................. 115
As formas abstratas do reflexo artístico ................. 120
A imitação: magia e arte ............................. 123
Mímese e autoconsciência do gênero .................... 125
CAPÍTULO 9. Arte e vida cotidiana ....................... 129
CAPÍTULO ro. Lukács e Walter Benjamin .................. 139
Alegoria ......................................... 139
Símbolo .......................................... 143
CAPÍTULO rr. A Ontologia do ser social .................. 147
A odisseia de Lukács ................................ 149
Ideologia e arte .................................... 163
À guisa de conclusão .................................. 173
Índice onomástico .................................... 181
INTRODUÇÃO
Em 1967, 44 anos após a publicação de História e consciência de
classe, Lukács, enfim, permitiu que a sua obra "maldita" fosse reedita
da. Para a nova edição, entretanto, teve o cuidado de preparar um alen
tado posfácio para assinalar a distância que separava suas ideias atuais
daquelas presentes no livro "renegado'', que, à sua revelia, fora consa
grado como a obra de filosofia marxista mais influente do século 20.
Em suas considerações, o velho Lukács relembra os tempos difí
ceis que se seguiram à publicação de História e consciência de classe,
as "autocríticas protocolares" que foi obrigado a fazer para continuar
alinhado ao movimento comunista no momento em que a luta contra
o nazifascismo entrara na ordem do dia. Naquele período, as condi
ções políticas adversas levaram Lukács a permanecer num cauteloso
silêncio1•
Tal silêncio foi confundido erroneamente com adesão ao stalinis
mo. Michael Lowy, por exemplo, sustenta que a "conversão" de Lukács
ao stalinismo realizou-se, apesar de muitas "reservas e reticências'', no
ensaio de 1926, Moses Hess e os problemas da dialética idealista. Lowy
concentra-se basicamente na crítica de Lukács ao utopismo dos jovens
hegelianos (Hess e Cieszkovski) contraposto ao "realismo" de Hegel, que
preferia, ao dever-ser da utopia, a "reconciliação com a realidade". Essa
referência elogiosa de Lukács a Hegel é interpretada como um abandono
da postura revolucionária de História e consciência de classe e, também,
como "o fundamento metodológico da adesão de Lukács ao Termidor
soviético" - sua própria "reconciliação com a realidade" instaurada pelo
1 Sempre pareceu estranho o súbito abandono das ideias expostas em História e consciência
de classe, pois o livro havia ocasionado vivas polêmicas logo após a sua publicação. Tais
polêmicas centraram-se nas intervenções de BLOCH, E.; DEBORIN, A.; RÉVAI, ].; e
RUDAS, L., que, posteriormente, foram reunidas por BOELLA, Laura, em Intelettuali
e coscienza de classe. II debattito su Lukács. 1923-1924 (Milano: Giangiacomo Feltri
nelli Editore, 1977). Recentemente, Nicolas Tertulian publicou um ensaio sobre um longo
texto inédito de Lukács, descoberto nos arquivos de Moscou, em que o autor, escrevendo
em 1926, defendia-se das críticas que lhe foram dirigidas (Dialectique et spontanéité. En
defense de Histoire et conscience de classe, Paris: Les Éditions de la Passion, 2001). O
ensaio de Tertulian que apresenta o livro, "Metamorfoses da filosofia marxista: a propó
sito de um texto inédito de Lukács", foi publicado pela revista Crítica Marxista, n. 16 (São
Paulo: Boit.empo, 2001).
9
A ARTE NO MUNDO DOS HOMENS: O ITINERÁRIO DE LUKÁCS
stalinismo. Num registro teórico diferente, Tito Perlini também lamenta
a queda de nosso autor no "duro" realismo2•
Ora, a defesa de Hegel como um precursor direto de Marx e os
problemas daí advindos são uma constante de toda a obra de Lukács
após a sua "adesão" ao marxismo. Ao comentar o texto sobre Hess no
posfácio de 1967, observou que ele "parte, tal como História e consciên
cia de classe, de uma pretensa identidade entre objetivação e alienação"3•
De fato, a crítica ao kantismo de Hess também encontra aí sua solução
na consciência do proletariado revolucionário: "Antes de Marx e Engels,
nenhum teórico do socialismo tinha sido capaz de individuar no ser
social do proletariado aquele processo cuja dinâmica real deve somente
ser tornada consciente para chegar à teoria da práxis revolucionária"4•
Como se vê, Lukács continuava defendendo a perspectiva do sujei
to-objeto idêntico: na consciência do proletariado, pensamento e ser se
identificam. Não é preciso insistir que essa apropriação de Hegel con
trariava abertamente a ortodoxia que só se referia ao autor da Ciência
da lógica para criticar o seu conservadorismo político e o seu idealismo
filosófico e, deste modo, lembrar o abismo que separa essa concepção da
"teoria do reflexo" e da teoria da consciência de classe formulada por
Kautsky e Lenin.
Finalmente, a breve referência elogiosa à tese da "reconciliação
com a realidade" em Hegel, enquanto demonstração de realismo meto
dológico é feita no contexto específico da crítica ao dualismo kantiano
redivivo nos jovens-hegelianos e o culto ao "dever-ser". Lukács acom
panha Hegel e Marx na defesa da centralidade ontológica do presente
e na rejeição a todo utopismo. Mas não deixa de criticar a resignação
existente em Hegel que enrijece o presente a ponto de este deixar de ser
visto apenas como momento transitório de um processo prenhe de ten
dências. A "reconciliação com a realidade", segundo o Lukács de 1926,
é "uma cristalização do presente como um absoluto, uma supressão da
dialética, um princípio reacionário"5•
A identidade entre sujeito e objeto e a identificação entre aliena
ção e objetivação são teses hegelianas que acompanharam Lukács até o
final dos anos 1920. A ruptura com elas só se efetivará em 1930, quan
do Lukács se transfere para Moscou. Lá, torna-se amigo e parceiro de
2 Cf. PERLINI, Tito, Utopia e prospettiva in Gyorgy Lukács (Bari: Dedalo Libri, 1968).
3 LUKÁCS, G., Historia y consciencia de e/ase (Barcelona: Grijalbo, 1969), p. 374.
4 Id., "Moses Hess e i problemi della dialettica idealistica", in: Scritti politici giovanili
(Laterza, 1972), p. 268.
5 Ibid., p. 263.
10